11 de ago. de 2010

EMO

EMO.
Como tudo nesse país, o Brasil "importou" o termo EMO para definir um estilo de vida.
Fez errado.
Nos anos 80, o termo EMOCORE surgiu nos EUA para segmentar um estilo musical em voga na época: bandas de hardcore que, ao invés do usual protesto, em suas letras tratavam de emoções. Sim, emoções, como a que você, eu e os adolescentes de cabelo escorrido com chapinha sentem.
E, por emoções, não entenda apenas "dor de corno". Emoção significa sentimentos, como ódio, medo, amor, desilusão, revolta, desabafo.
Bandas respeitadas como Fugazi (remanescentes do raivoso Minor Threat formaram essa banda nos anos 80), Bad Religion, Sunny Day Real State, Tool, e muitas outras fizeram muito sucesso na cena HC americana (principalmente cena californiana) e ajudaram a dar um suspiro maior no hardcore, culminando na influência em bandas de muito sucesso (mas de teor duvidoso) como Green Day e Offspring (em tempo: bandas estas que tiveram bons álbuns até meado dos anos 90).
Eis que, com o usual atraso, começam surgir no Brasil bandas intimamente influenciados por esse hardcore, com letras cantadas em português.
O CPM22 apareceu e causou frisson no início. Sem ser boa, a banda despontou no pobre cenário nacional, desbancando o praticamente finado Raimundos do topo das paradas rockers tupininquins.
As meninas se identificavam com as letras melosas, os meninos se identificavam com o visual urbano e os usuais palavrões distribuidos nos shows (VOCES SÃO DO CARALHOOOOO!!), a moda pegou e deu no que deu.
Como por aqui nada se cria, tudo se copia, surgiram os clones do CPM22. Fresno, Hateen, NX Zero... A preocupação com o visual era grande, afinal, é sempre importante criar uma identidade visual. Os garotos copiavam.
Um dia alguém falou que era EMO.
Não existe "ser EMO". Como alguém pode ser um rótulo musical?
Como tudo no Brasil consegue ser piorado, os EMOS foram amplamente difundidos Brasil à "dentro", garotos de cabelos esquisitos empunhavam suas guitarras na altura dos joelhos e cantavam o quanto é triste "viver sem ter vocééééééé" (porque raios todos eles não usam o acento circunflexo ao cantar palávras como "você"?).
Em algum momento a difusão foi tão grande que a mistura do visual dos EMOS, de tão caprichada, passou a ter uma boa porção de visual Glam, com maquiagens, esmaltes, batons... E os EMOS viraram gays.
Pra MTV foi ótimo. É importante pregar que a miscigenação sexual deve ser tratado como algo "normal".
Mas na real a coisa foi feia. Garotos apanhavam nas ruas por terem visual EMO. Adolescentes, em plena formação de personalidade e sexualidade, não sabiam autodefinirem-se: afinal, eram EMOS ou gays?
Vieram as cores. Veio agora o Restart, que se auto-intitulam "HAPPY ROCK".
Triste.
Triste porque, para mim, um cara apreciador de músicas e estilos, de pensamentos e movimentos sociais, vi crescer em pouco tempo uma "tribo" mal informada, que não conhece a origem do termo que os definem.
Triste porque as bandas que surgem (e somem, tenha certeza) não são bandas honestas, mas produtos de marketing que são milimetricamente fabricadas em estúdio por hitmakers e pela MTV, que há muito tempo deixou de ser um canal voltado para honestidade da música e passou a ser um meio midiático voltado para o entretenimento - E ENGANAÇÃO - do público jovem.
Fico feliz quando hoje, eu estando velho, barrigudo e cansado, vejo na rua adolescentes vestindo camisetas de bandas "de verdade", mesmo elas não sendo de meu agrado. Um jovem que ouve Dream Theater ou Gamma Ray certamente tem uma visão de mundo menos deteriorada e muito mais bem informada do que um cara que acha "tipo assim, suuuper descolado esse lance do óculos do cara do Restart, tá ligado?".
O rock, sendo emo, happy, hard ou qualquer porra de rótulo que o define, deve ser, acima de tudo, honesto.
Muitas bandas praticam rock honesto no país. Das grandes, poucas. A maioria está no underground, nos bares da Vila Madalena, da Augusta, da Radial Leste, do Aricanduva.
Essas, tão musicais e sem apelo, certamente não sairão do underground e provavelmente terão apenas um pequeno, mas fiel, público alvo.
Uma pena.
Isso me deixa triste.
Acho que vou chorar, "miguxooooo".

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