23 de ago. de 2010

Jello Biafra (Dead Kennedys)




Dia desses estive conversando com um primo que é bem mais novo que eu.
Moleque inteligente e tals... falou sobre quase tudo o que importa na cultura adolescente: garotas, livros, música, quadrinhos, filmes, drogas, trabalho, pais, etc.
Me chamou a atenção para o fato do garoto dizer que queria conhecer punk rock e que ele estava começando a se interar no assunto, já que gosta de rock n' roll em geral.
O conhecimento dele acerca do punk rock, mesmo com tanta informação fácil de ser colhida na internet, limita-se a bandas californianas da década passada (leia-se Green Day, Offspring e vai nessa linha. Me espantou ele dizer que conhecia o NOFX!).
Nada contra, até gosto dessas bandas, mas o som e a cultura punk é muito mais que isso.
Não é preciso dizer que, se queres conhecer um pouquinho sobre punk rock, tens obrigação de ouvir a semente... Começe com as bandas de garagem dos anos 60, como The Seeds... passe por Stooges e MC5... ouça New York Dolls... entenda as bandas dos anos 70 (Ramones, Pistols, Clash, Buzzcocks, Television), e, ao chegar nos anos 80 dê atenção ao nascimento do punk hardcore, em especial aos Dead Kennedys.
Seria pecado dizer que eles foram a "primeira banda politizada", mas talvez tenham sido a primeira banda politizada de expressão mundial.

A banda durou pouco tempo e fez 5 albuns de estúdio, todos ótimos.
No Brasil, as rádios-rock costumam tocar pelo menos dois hits do primeiro álbum: California Über Alles e Viva Las Vegas. Vá além. Ouça os álbuns, leia as letras, saiba mais sobre o vocalista Jello Biafra, procure seus trabalhos com outras bandas e com o selo Alternative Tentacles, uma das maiores instituições de apoio a música underground americana.
Se possível, ouça a banda do batera D. H. Peligro (chamada Peligro!).
Depois de feitas essas lições de casa, vá ao show que o Jello Biafra fará em São Paulo, nos dias 5 e 6 de Novembro, no Hangar 110.
Claro que o punk rock vai muito além disso, e que o Dead Kennedys não é a banda definitiva do gênero, mas sua importância é essencial para tudo o que foi feito a partir de sua existência. A banda, em formação duvidosa (sem o "pensador" Biafra) está na ativa e, se nao me falham Tico e Teco, estiveram no Brasil há pouco tempo. Mas, como eu disse, com formação duvidosa...
Acho que depois de ouvir essa banda e entender o contexto social/político/musical/cultural da época, tenho certeza de que você irá se tornar fã de punk rock.
Tem links para o primeiro e último disco de estúdio dos Kennedys, o Fresh Fruit For Rotten Vegetables (1980) e o Bedtime For Democracy (1986).
Have fun.


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16 de ago. de 2010

PIXIES - DEATH TO THE PIXIES (1997)



Você pode estar prestes a assistir ao vivo em SP a banda que, talvez, reproduza a melhor definição para o rótulo GUITAR BAND.
Os Pixies são conhecidos por aqui através da balada Here Comes Your Man, insistentemente tocada nas rádios, mas seu legado é muito mais importante para a música do que essa balada radiofônica.
Eles são de Boston, Massachussetts. Bacana, como quase tudo que vem de Boston (vide Mission Of Burma, Dinosaur Jr, Galaxie 500, Luna, Sebadoh, Morphine, Buffalo Tom, etc), a banda ganhou destaque logo ao ser formada, em 85. Charles Thompson (vocal e guitarras)e Joey Santiago (guitarras) eram colegas de quarto numa república enquanto estavam na faculdade. Thompson, também conhecido como Black Francis, já compunha algumas cançoes de teor bizarro, sobre OVNIs, incestos, violência, psicoses e outros tipos de bizarrices. Seu som era influenciado pelo punk e pela surf music. Ele e Joey resolveram recrutar uma banda através de classificados (antigamente tão comuns para esse propósito), e apareceu "Ms. John Murphy", também conhecida como Kim Deal (baixo e vocais), que trouxe o amigo Dave Lovering (batera) e logo foramram o Pixies.
Com as composições já prontas, fizeram uma demo de muita repercussão na mídia local (conhecida como "Purple Tape"). Logo foram contratados pela gravadora 4AD e lá gravaram sua estréia, o EP Come On Pilligrim, lançado em 87, um petardo guitarrístico de 8 canções. A partir daí, o resto é história.
Pra se ter uma idéia, o primeiro álbum cheio deles foi produzido pelo (na época já esquisito) Steve Albini, aquele que é dono do Shellac e que também é conhecido por ter produzido o In utero, do Nirvana (por sinal, outra cria dos Pixies). Ainda no link Pixies-Nirvana, é possível incluir o Foo Fighters! Gil Norton, O cara que produziu The Colour And The Shape do FF também foi responsável pela produção dos Pixies nos álbuns Doolitle (89), Bossanova (90) e o derradeiro Trompe le Monde (91).
A estrutura tão copiada de musicas calmas, com refrões gritados e barulhentos, que voltam para a estrofe calma são frutos das composições dessa incrível banda.
No Brasil, lembro-me de ter visto vinis do álbum Trompe Le Monde, mas acredito que o primeiro lançamento em CD foi via Natasha Records, que soltou por aqui a coletânea Death To The Pixies, com um adesivão na capa dizendo que eram "A BANDA QUE INFLUENCIOU O NIRVANA". Depois, com a explosão do indie rock no final dos anos 90 e início dos 2000, todos os álbuns foram re-lançados por aqui e são fácilmente encontráveis em qualquer web-loja famosa.
Eles vieram ao Brasil em 2004, mas tocaram apenas para os felizardos do finado Curitiba Pop Festival. Agoram virão para SP, tocar em Itú (Itú????) no festival SWU (www.swu.com.br), junto com outros nomes não menos relevantes.
Mas não percam a oportunidade de ver ao vivo essa instituição do rock alternativo.
Vou colocar aqui um link para que vocês baixem essa coletânea da banda, ideal para aqueles que não conhecem o trabalho, mas é interessante ouvir tudo o que esses caras já fizeram, seja com os Pixies ou com seus trabalhos solos e bandas (Frank Black/The Breeders/The Catholics).
São músicos incríveis, musicas incrívis, ignoradas pela mídia mas amados por quem conhece. Eu acho impossível alguém que goste de rock não gostar de músicas como Bone Machine, Something Against You, Tame, Letter From Memphis, Broken Face, where Is My Mind?...
Enfim, ouça tudo o que você puder de Pixies.

Palavra do Senhor.

DOWNLOAD CD1

DOWNLOAD CD2

12 de ago. de 2010

Ramones e amigos

Gosto de Ramones pra caralho.
Lembro-me da primeira vez em que ouvi Ramones. Devia ter cerca de 8 ou 10 anos de idade, e um garoto da rua me emprestou o disco, e era o Rocket To Russia (na verdade ele não era da minha rua, mas namorava uma garota da minha rua e, pra me desbaratinar de perto deles, me trazia centenas de discos para ouvir, pois percebia que já naquela época eu era muito ligado em música).
Naquela época o Ramones tinha feito sua primeira turnê pelo Brasil, passando por São Paulo. Os jornais (leia-se "Notícias Populares") noticiavam a "violência dos punks" nos shows e nas ruas. E ouvindo o álbum não conseguia entender como um show dos Ramones poderia ser violento.
É claro que me tornei fã da banda, mas o acesso aos discos era muito difícil em 1988! Lembro-me do lançamento do filme Pet Sematary, com a música homônima dos Ramones como trilha. Lembro das notícias da segunda turnê dos Ramones em SP, quando um cara foi esfaqueado no Dama Xoc.
Enfim, comecei a trabalhar aos 15 anos, em 1994 (antes disso, ganhava uns trocos entregando coxinha em boteco, e torrava tudo em discos!). Meus primeiros salários foram integralmente dedicados a compra de discos que eu considerava essenciais à minha discografia, mas os discos dos Ramones eram muito caros na época, pois tinham lançado à época dois álbuns de muito sucesso no Brasil (a saber: Mondo Bizarro e Acid Eaters). Deles, na época, fiz questão de ter o Rocket To Russia e o Road To Ruin.
E foi nessa época que conheci um cara no colégio que curtia muito Ramones. E o cara tinha tudo de Ramones. TUDO. Esse cara tinha até o Subterranean Jungle (explicação: em 1994...1995 nao tinha internet, email, mp3...porra nenhuma! As informações musicais que tínhamos tinham que ser colhidas na galeria do rock, em revistas especializadas da época ou com "enclopedia-mens" que existiam pela cidade! Ter discos importados era privilégio para poucos! Por isso, crianças, que o rock é tão efêmero hoje! Porque o acesso à ele é fácil hoje em dia...mas isso é assunto pra outro post).
É claro que me tornei camarada desse cara. Gravava tudo o que ele tinha de Ramones.
Descobri com os discos dos Ramones que até mesmos os mestres cometem erros, já que eles gravaram álbuns bem ruizinhos (o tão cobiçado Subterranean Jungle!). Descobri (com muita pesquisa, claro) quem era o Phil Spector, que produziu tanto os Beatles como o End Of Century dos Ramones... Descobri meu álbum favorito dos Ramones: Pleseant Dreams, de 81.
Em 1994 fomos num show dos Ramones no finado Olympia, na Lapa, com abertura do Inocentes. É claro que eu, moleque de 15 anos, temi levar facadas, garrafadas, apanhar de punks e skins, mas nada disso aconteceu! Foi um show lindo, do início ao fim, uma aula de energia para qualquer banda que se preze. Os Ramones eram únicos e, no palco, acho que nunca vi uma banda com uma postura tão fria conseguir dominar uma platéia como os Ramones.
Foi um dia especial, que guardo com muito carinho na lembrança.
O tempo passou, esse camarada e eu envelhecemos, e hoje em dia nos cruzamos de vez em nunca pra tomar uns querosenes por aí. Ainda gostamos de Ramones, rock n' roll e cerveja...ainda somos amigos!
Waltinho, foi um prazer ir naquele show com você em 94. Obrigado pelos discos emprestados!

11 de ago. de 2010

BAD RELIGION - SUFFER (1986)



Pra não dizerem que eu não dei uma força...
O Bad Religion, instituição californiana do bom hardcore melódico, foi um dos pioneiros do chamado emocore.
Conforme dito anteriormente, EMO é rótulo, não estilo de vida.
Esse álbum é de 1986. Ouçam e prestem atenção como, há muito tempo atrás, o Bad Religion já fazia o que muita bandeca brasileira foi fazer quase 20 anos depois.
Um dos melhores álbuns de HC melódico da história, aula de boa música, boas letras e atitude.
Quer sofrer, EMO? Se liga na tradução de What Can You Do? (fonte:
http://letras.terra.com.br/bad-religion/2925/traducao.html)

"Yeah, você desperdiça seu tempo com perdedores se se prende numa banda de rock-and-roll
Você acha mais recompensador competir com débeis mentais através da terra?
Eles parecem estar no poder então eu chuto de volta e vou muito pra trás
E eu observo eles enquanto eles fodem cada coisa boa nessa terra com suas mentes
Você vê que o mundo está se despedaçando aos rompimentos
E surpreendentemente os líderes não conseguem tomar conhecimento disso
Você não significa nada pro mundo
Nós somos todos os tolos de outra pessoa
Mas, oh, o que você pode fazer?"


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EMO

EMO.
Como tudo nesse país, o Brasil "importou" o termo EMO para definir um estilo de vida.
Fez errado.
Nos anos 80, o termo EMOCORE surgiu nos EUA para segmentar um estilo musical em voga na época: bandas de hardcore que, ao invés do usual protesto, em suas letras tratavam de emoções. Sim, emoções, como a que você, eu e os adolescentes de cabelo escorrido com chapinha sentem.
E, por emoções, não entenda apenas "dor de corno". Emoção significa sentimentos, como ódio, medo, amor, desilusão, revolta, desabafo.
Bandas respeitadas como Fugazi (remanescentes do raivoso Minor Threat formaram essa banda nos anos 80), Bad Religion, Sunny Day Real State, Tool, e muitas outras fizeram muito sucesso na cena HC americana (principalmente cena californiana) e ajudaram a dar um suspiro maior no hardcore, culminando na influência em bandas de muito sucesso (mas de teor duvidoso) como Green Day e Offspring (em tempo: bandas estas que tiveram bons álbuns até meado dos anos 90).
Eis que, com o usual atraso, começam surgir no Brasil bandas intimamente influenciados por esse hardcore, com letras cantadas em português.
O CPM22 apareceu e causou frisson no início. Sem ser boa, a banda despontou no pobre cenário nacional, desbancando o praticamente finado Raimundos do topo das paradas rockers tupininquins.
As meninas se identificavam com as letras melosas, os meninos se identificavam com o visual urbano e os usuais palavrões distribuidos nos shows (VOCES SÃO DO CARALHOOOOO!!), a moda pegou e deu no que deu.
Como por aqui nada se cria, tudo se copia, surgiram os clones do CPM22. Fresno, Hateen, NX Zero... A preocupação com o visual era grande, afinal, é sempre importante criar uma identidade visual. Os garotos copiavam.
Um dia alguém falou que era EMO.
Não existe "ser EMO". Como alguém pode ser um rótulo musical?
Como tudo no Brasil consegue ser piorado, os EMOS foram amplamente difundidos Brasil à "dentro", garotos de cabelos esquisitos empunhavam suas guitarras na altura dos joelhos e cantavam o quanto é triste "viver sem ter vocééééééé" (porque raios todos eles não usam o acento circunflexo ao cantar palávras como "você"?).
Em algum momento a difusão foi tão grande que a mistura do visual dos EMOS, de tão caprichada, passou a ter uma boa porção de visual Glam, com maquiagens, esmaltes, batons... E os EMOS viraram gays.
Pra MTV foi ótimo. É importante pregar que a miscigenação sexual deve ser tratado como algo "normal".
Mas na real a coisa foi feia. Garotos apanhavam nas ruas por terem visual EMO. Adolescentes, em plena formação de personalidade e sexualidade, não sabiam autodefinirem-se: afinal, eram EMOS ou gays?
Vieram as cores. Veio agora o Restart, que se auto-intitulam "HAPPY ROCK".
Triste.
Triste porque, para mim, um cara apreciador de músicas e estilos, de pensamentos e movimentos sociais, vi crescer em pouco tempo uma "tribo" mal informada, que não conhece a origem do termo que os definem.
Triste porque as bandas que surgem (e somem, tenha certeza) não são bandas honestas, mas produtos de marketing que são milimetricamente fabricadas em estúdio por hitmakers e pela MTV, que há muito tempo deixou de ser um canal voltado para honestidade da música e passou a ser um meio midiático voltado para o entretenimento - E ENGANAÇÃO - do público jovem.
Fico feliz quando hoje, eu estando velho, barrigudo e cansado, vejo na rua adolescentes vestindo camisetas de bandas "de verdade", mesmo elas não sendo de meu agrado. Um jovem que ouve Dream Theater ou Gamma Ray certamente tem uma visão de mundo menos deteriorada e muito mais bem informada do que um cara que acha "tipo assim, suuuper descolado esse lance do óculos do cara do Restart, tá ligado?".
O rock, sendo emo, happy, hard ou qualquer porra de rótulo que o define, deve ser, acima de tudo, honesto.
Muitas bandas praticam rock honesto no país. Das grandes, poucas. A maioria está no underground, nos bares da Vila Madalena, da Augusta, da Radial Leste, do Aricanduva.
Essas, tão musicais e sem apelo, certamente não sairão do underground e provavelmente terão apenas um pequeno, mas fiel, público alvo.
Uma pena.
Isso me deixa triste.
Acho que vou chorar, "miguxooooo".